A proximidade é complacente. A distância é implacável. É o
que revela o ministro Sergio Moro (Justiça) ao adotar pesos e medidas
diferentes para analisar os dramas penais que assediam as biografias do senador
Flávio Bolsonado e do ex-presidente Michel Temer. Quando fala sobre o filho
'Zero Um' de Jair Bolsonaro, Moro é brando. Quando se refere a Temer, soa
draconiano.
Em entrevista à GloboNews, na noite desta quarta-feira, o
ex-juiz da Lava Jato foi instado a comentar a penúltima notícia que despencou
sobre o primogênito do presidente. Documento do Ministério Público do Rio de
Janeiro anota que o senador aplicou R$ 9,4 milhões na aquisição de 19 imóveis.
Farejaram-se nas transações indícios de lavagem de dinheiro.
Moro deu um voto de confiança ao investigado: "Acredito
que o senador vai ter plenas condições de esclarecer esses fatos com o tempo,
desde que seja dado a ele algum tempo." Considerou "inapropriado
emitir qualquer juízo a esse respeito." Escorregadio, alegou que "o
ministro da Justiça não é um supertira, não cuida de todas as investigações do
país.".
Perguntou-se também a Moro que diferenças enxerga entre os
casos de Lula e de Michel Temer. Menos evasivo, o ex-juiz realçou que Lula está
preso porque foi condenado na primeira e na segunda instância. Quanto à
reiterada prisão preventiva a de Temer, revogada pelo STJ, considera que é
"uma decisão mais atacável, porque não é um juízo conclusivo, ainda, sobre
provas.".
A despeito de reconhecer que Temer ainda não foi abalroado
por nenhuma sentença, Moro foi implacável com o réu: "O que eu vi, à
distância, nas argumentações das decisões das prisões preventivas, somente no
aspecto das provas, me pareceu bastante robusto. Infelizmente, muito
infelizmente.".
No caso de Flávio Bolsonaro, Moro disse coisas definitivas
sem definir muito bem as coisas: "Essa questão do senador está com o
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, não está no ministério."
Realçou que, sempre que lhe perguntam "o que vai fazer em relação a
isso?", responde: "Meu amigo, não está comigo, está em outro
lugar." Absteve-se de recordar que o Coaf, ainda sob seus cuidados, é
fornecedor de matéria-prima usada contra o 'Zero Um'.
Temer frequenta o banco dos réus em seis ações penais.
Nenhuma delas está com Moro. Todos os processos estão "em outro
lugar". O caso que rendeu duas passagens do ex-presidente pela prisão
corre na 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, sob a supervisão da Procuradoria.
Mas a localização geográfica não foi obstáculo para que Moro desejasse a Temer
um futuro sombrio.
"O Brasil passa por uma situação dessa! Mas, veja, até
o país aqui do nosso lado, o Peru, também teve presidentes presos que receberam
vantagem indevida. E estão fazendo sua lição de casa. […] Nós temos que fazer
com que o crime não compense, porque isso nos leva a um patamar melhor de
institucionalidade. Isso vai ser bom para a ecomomia, para a Justiça, para a
nossa democracia. As pessoas que cometeram crimes têm que responder pelos seus
atos. Simples assim.".
É uma pena que a proximidade impeça Sergio Moro de tratar
Flávio Bolsonaro com a mesma objetividade. O ministro declarou a certa altura:
"Não vou ser advogado de ninguém." Bom, muito bom, excelente. Agora
só falta advogar em nome do interesse público, aplicando ao filho do presidente
a mesma simplicidade: "Se cometeu crimes, tem que responder pelos seus
atos." De um ministro da Justiça não se espera que emita sentença, mas que
ofereça boas referências.
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